segunda-feira, 14 de março de 2016

'Assistindo' a carreira do King


No último domingo, contra o Clippers, LBJ se tornou o 19º maior assistente da história da NBA, passando Kevin Johnson. Os 18 atletas na frente do King são todos armadores.

Hoje, no início da tarde, foi divulgado mais um mixtape dos filhos do LeBron. Os dois moleques vêm ganhando muita atenção da mídia. Principalmente o filho mais velho, LeBron James Jr. Você pode ver o mixtape aqui; Todo mundo ficou falando do quão bem os moleques jogam. Isso me fez lembrar de uma declaração de James. Ele falou uma coisa bem importante sobre o seu filho mais velho: "Quando eu tinha a idade do Bronny, jogava exatamente igual ele". Vocês, provavelmente, devem estar se perguntando onde eu quero chegar, e eu vos explico.

Senta que lá vem a história...

Ele era o menor jogador daquele Hornets da comunidade Summit Lake, em 1993, no sudoeste de Akron. O nome dele era Sonny, o garoto tinha 7 anos. Ele sabia arremessar, mas não conseguia segurar a bola sempre... Ele perdia a bola antes mesmo de conseguir segurá-la. Frankie Walker, treinador do time, acreditava que cada criança deveria arremessar pelo menos uma vez por jogo, independente da habilidade. Então ele falou para os garotos da sua equipe; "Vocês precisam envolver Sonny no jogo, fazer ele ter bons arremessos". Coach Walker tinha várias jogadas desenhadas para o seu melhor jogador, um garoto de  9 anos chamado LeBron James. 

LBJ não entendia porquê seu treinador insistia tanto em fazer ele e Sonny se entenderem dentro de quadra. LeBron podia jogar contra os cinco jogadores da equipe adversária sozinho, e ainda conseguir fazer a cesta. Criar uma oportunidade de cesta pro Sonny era muito mais dificil. Walker 'pegava no pé' do LeBron, principalmente nos treinos, quando LeBron prendia a bola. Ele parava o treino para mostrar que Sonny, ou outro jogador, estava livre. "O que ele não sabia naquela época era que," disse Coach Walker, "eu estava ajudando mais ele, do que o próprio Sonny. Ele tinha que aprender a colocar o seus companheiros de time em primeiro lugar."

Sonny finalmente conseguiu segurar a bola e fazer algumas bandejas nos jogos seguintes. Os Hornets de Summit Lake comemoraram igual um time de NBA quando o garoto conseguiu acertar uma bola de três.


"Essas lembranças estão claras na minha cabeça" falou LeBron, "Parecia que eu tinha acertado o arremesso. De alguma forma, me sentia melhor do que quando eu fazia a cesta. Eu queria continuar sentindo aquilo."

"Eu percebi desde o inicio que ia ter dois, três, quatro... vamos falar a verdade, percebi que sempre haveria cinco defensores de olho em mim. Isso possibilitou que eu pudesse fazer tudo que eu queria em quadra para mim e para ajudar meus companheiros" disse LeBron. 

No seu último ano no High School, LeBron infiltrava e tocava a bola para Corey Jones, especialista em bolas longas do time, e gritava para seu companheiro de time arremessar. "Todo mundo marcando ele (LBJ), e eu ficava sozinho na zona-morta" disse Jones, "Eu lembro de um jogo, em um torneio que aconteceu na universidade de Dayton. Eu estava acertando tudo, 'on fire', e nos minutos finais da partida eu errei uma bola de três, pegou na parte da frente do aro. James pulou, agarrou a bola e tocou de volta pra mim, e gritou 'Arremessa!'", Corey fez a cesta e St. V-M venceu a partida. LeBron recebeu o troféu de MVP da competição. "Ele agradeceu ao locutor do ginásio, depois me chamou e me entregou o troféu" completou Jones.

LeBron sempre foi um ótimo facilitador, mas quando ele chegou na Liga, não era como hoje. "Quando cheguei na NBA, eu sabia jogar pra mim, conseguia criar meu próprio arremesso" ele diz, "mas eu não estava pensando estrategicamente. Eu não estava ajudando os meus companheiros." Ele fazia a mesma coisa que deu certo em St. V-M, atacando a cesta e tocando para um companheiro quando a defesa dobrava em cima dele. "Ele era um pitbull durante os treinamentos" diz Carlos Boozer, que jogou no Cavs (Lembram dele?) em 2003-04, quando LBJ tinha 18/19 anos. "Ele ainda não tinha um arremesso consistente, mas ele tinha 2,03 e atacava o aro muito bem, ao sair do pick-and-roll, a defesa inteira tentava ajudar a pará-lo. E no momento que isso acontecia, ele tocava a bola pra mim. Ele conseguiu tantos arremessos livres na zona-morta e na 'cabeça do garrafão' pra mim..."

No jogo 1 das Finais de Conferência, contra o Pistons, em 2007, LeBron infiltrou pela esquerda (sendo marcado por Tayshaun Prince). Rasheed Wallace e Richard Hamilton, imediatamente, foram ajudar na marcação. James tocou para o Donyell Marshall, que estava sozinho na zona-morta. "Eu errei, nós perdemos, e todo mundo estava perguntando a ele por quê ele tocou pra mim" lembra Marshall, que agora é Coach de basquete. "Mas, o que está mais fresco na memória é o dia seguinte, quando treinamos jogadas para serem usadas no final de jogo. LeBron tocou pra mim na zona-morta de novo. Acertei o arremesso, e ele veio correndo na minha direção comemorando como se eu tivesse ganho o jogo."

Dez dias depois, os Cavs venceram os Pistons no jogo 5, aquele fatídico jogo em que LeBron marcou 29 dos últimos 30 pontos, em duas prorrogações. "Eu estava no mesmo lugar do jogo 1 o tempo todo, mas os Pistons não me deixaram sozinho de novo, então LBJ conseguiu infiltrar com um pouco mais de facilidade" disse Donyell, "E, por coisas assim, ele começou a perceber o que ele era capaz de fazer dentro de quadra."

"Eu joguei com Karl Malone, e uma vez ele me disse, 'você precisa ter feito 10 pontos antes do intervalo'", disse Marshall. "Eu não entendi, mas ele me explicou. 'Se você tiver 10 pontos antes do intervalo, o outro time pensa que você está on fire, e começa a te marcar mais de perto. E com isso sobra mais espaço pra mim no 1-contra-1. E aí, no 4º período, eu posso fazer minha takeover'. Eu contei essa história pro LeBron."

"Dava pra perceber que ele jogava diferente no 1º tempo de partida. Ele tentava envolver todo mundo", disse Wally Szczerbiak - que veio pro Cavs em 2007-08 e hoje é comentarista da CBS. "Ele sabia que se conseguisse encontrar alguém que estava on fire, a defesa estaria em uma posição difícil. Ele também sabia que se nos envolvesse no ataque, nós defenderíamos melhor".

"Eu comecei a perceber e estudar mais as jogadas que deixavam nossos melhores scorers livres", disse LeBron. "Okay, então com essa jogada o Daniel Gibson fica livre, e com essa o Damon Jones fica livre pra arremessar. Mas como eu faço pra arranjar um arremesso pro Donyell?"

"Ele sabia onde você gostava de receber a bola, em que parte da quadra você era melhor. O time, basicamente, foi montado ao redor dele e desse conhecimento" disse Jones. "Ele chamava uma jogada, um pick-and-roll alto, bem atrás da linha de três, e obviamente, os times sempre faziam a dobra nele. E, por causa disso, eu sempre ficava livre na cabeça do garrafão. Toda a atenção estava nele. Você não precisava fazer praticamente nada, ele simplesmente te achava".

Jones notou uma forma de ganhar a confiança do LeBron. "Não era só fazer as cestas. Ele ia tocar a bola pra você mesmo depois de você ter perdido dez arremessos seguidos. Mas ele queria te ver treinando, se esforçando. Queria te ver treinando antes de todo mundo ou depois que o treino acabasse. Ele só queria saber se você estava preparado e pronto pro jogo".

Mike Miller, que jogou com LBJ no Heat e no Cavs, disse: "Quando você joga com o LeBron, sendo um shooter, você se pergunta Como isso vai afetar meu jogo?! A primeira coisa que dá pra notar é como a bola chega nas suas mãos. Eu não ligo se a bola vem alta ou baixa, eu só não quero arremessar um floater da linha de três".

"Ele é tão grande que ele vê por cima da defesa, e te manda esses bullet passes lá do outro lado da quadra, na sua mão, como se não fosse nada", disse Miller. "Pouquíssimos fazem isso". A velocidade do passe do King ajudava Mike Miller a ter um segundo a mais para arremessar... era o suficiente pra ele ter espaço pra acertar o jumper.


LeBron tem sido "O cara" dos seus times desde que ele era um Summit Lake Hornet. E quando LBJ percebeu do que era capaz de fazer, as coisas ficaram mais fáceis pra ele e para seus companheiros. Bron tem quase 7.000 assistências na carreira, e, muito provavelmente, vem para ficar no Top 10 de assists na história da Liga.

Estamos vendo o melhor passador (sem ser PG) da história da NBA.

Muita gente diz que o LeBron tem seu arremesso, post moves e outros aspectos do seu jogo muito mecânicos, que aquela "facilidade" dele é por causa do lado atlético e dos vários treinos que ele fez ao longo da carreira. Okay, você pode pensar/dizer isso. Mas, visão de quadra não é algo que pode ser ensinado. LBJ tem o dom de passar a bola, dom que poucos na história desse esporte tiveram.

E agora, depois de tanto falar, eu deixo vocês 'assistirem' a carreira do LBJ.



Obrigado, Coach Frankie Walker.



(Fonte: Sports Illustrated, ESPN, NBA.com)

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